Historial 1999-2012
A Unidade de Multideficiência iniciou as suas actividades no ano letivo de 1999, sediada na Escola Básica do 1º Ciclo com Jardim de Infância n.º 2 do Laranjeiro. Foi a primeira Unidade dos Concelhos de Almada e Seixal e iniciou as suas funções através de um projeto elaborado pela Equipa de Coordenação Educativa de Almada, no sentido de dar resposta educativa aos alunos multideficientes que chegavam às escolas de primeiro ciclo.
Contrariamente ao que se passa com outros tipos de deficiência, onde a participação em sala de aula tem possibilidades de ser bem-sucedida, desde que encontradas as adaptações e apoios necessários; a maior parte dos currículos comuns têm poucas oportunidades de servir a um aluno multideficiente. A sua inclusão na escola necessita de alterações e acomodações específicas, quer do espaço, quer dos apoios, no sentido de garantir que a sua presença na escola se rege por objetivos individualmente adaptados e que o seu sucesso é avaliado, em função deste objetivos. A inclusão no caso destes alunos é unicamente um processo de aprendizagem de vida em que a escola representa apenas um dos vários ambientes onde necessitam de ser incluídos.
Funcionava então nos seguintes espaços: uma sala de aula, a partir do ano 2001-02 um gabinete (para terapias), um fraldário e uma casa de banho (com dois sanitários) não adaptada. Logo no início foi estabelecida uma parceria com a Cercisa no sentido de garantir a colocação de auxiliares de educação, e com o Externato Zazo para a disponibilização de terapeutas. A partir do ano letivo 2001-02 esta parceria passou a ser realizada apenas com a Cercisa.
No ano letivo 2004-2005, com a passagem da Escola para o Agrupamento Vertical de Escolas Professor Ruy Luís Gomes, esta Unidade de Apoio Especializado à Educação de Alunos Multideficientes passou a fazer parte das valências do mesmo.A partir do Ano letivo 2008-09 foi criada a segunda Unidade de Apoio Especializado à Educação de Alunos Multideficientes para o segundo ciclo, que passou a dar resposta aos alunos que atingiam a idade cronológica deste ciclo de ensino. Funcionou até ao ano letivo transato na E.B.1/J.I. nº2 do Laranjeiro, por motivos relacionados com as obras na Escola sede. Neste ano letivo passou então a funcionar em espaço próprio, na Escola Sede. Neste, conta atualmente com condições materiais favoráveis para o funcionamento desta valência: uma casa de banho adaptada com braço elevatório, dois gabinetes para terapias e uma sala.
Os alunos que frequentam este espaço educativo apresentam uma combinação acentuada de limitações em diversos domínios (cognitivo, motor e/ou sensorial), que condicionam gravemente não só o seu desenvolvimento, mas também a forma como aprendem e funcionam nos diferentes ambientes da sua vida. Estes alunos para poderem participar ativamente nos ambientes da comunidade educativa e social necessitam de apoio intenso e continuado. Do ponto de vista educacional exigem recursos e meios adicionais que respondam adequadamente às necessidades individuais e promovam aprendizagens significativas.
Relativamente à intervenção há que:
- Proporcionar um maior número de interações com os adultos e pares do seu conhecimento, a fim de lhes aumentar a confiança e a segurança.
- Proporcionar atividades significativas, do seu interesse e da sua confiança, por forma a poderem executá-las com êxito e poderem ser valorizados pelos outros.
- Proporcionar a escolha de atividades.
- Manter os ambientes favoráveis.
- Desenvolver competências facilitadoras da autonomia, da socialização e da comunicação a fim de lhe alargar e consolidar o domínio destas áreas.
- Garantir que a informação fornecida e as competências a desenvolver sejam úteis e contribuam para aumentar a sua independência futura.
- Transmitir informação usando formas de comunicação que respondam às necessidades individuais da criança/ jovem.
Nesta perspetiva, existe a necessidade da adequação ao nível dos conteúdos e das estratégias, quer dos planos e programas, quer dos currículos funcionais.
Estes alunos não procuram a informação de forma ativa, logo o acesso ao ambiente que os rodeia está condicionado pelas suas limitações cognitivas, motoras e sensoriais. Os processos normais de aprendizagens estão condicionados, necessitando por isso do ensino direto e individual de competências. Neste sentido há que apontar para um conjunto de procedimentos pedagógicos que viabilizem a sua participação na vida social, familiar e escolar. Por isto e dadas as dificuldades quer de deslocação, quer de acesso à informação (os nossos alunos não aprendem incidentalmente), necessitam de mudança e diversidade sistemática dos ambientes (ir ao supermercado, ir à piscina, ir ao centro comercial, ir ao museu, ir à rua, ver lojas diferentes, ir ao refeitório, ir ao ginásio, ir às salas de aula, ir ao Centro de Recursos e etc.), no entanto, qualquer deslocação envolve quase um adulto por aluno. Nestes currículos e programas estão incluídas atividades que promovem a estabilidade emocional e a autoestima, suportes essenciais para o desenvolvimento harmonioso e que lhes permitem a aquisição de competências e capacidades fundamentais para o seu desenvolvimento físico, motor, emocional, psíquico, social e da comunicação.
Na estruturação das atividades é importante considerar sempre o tempo, uma vez que este deve ser um elemento facilitador da aprendizagem. A estruturação do tempo envolve aspetos relativos à sequência das actividades que acontecem ao longo do dia e à organização dos acontecimentos dentro de cada atividade (análise de tarefas), os nossos alunos necessitam de ambientes muito estruturados a este nível, para além disso, é necessário dar tempo para a consecução das atividades.
Durante estes doze anos letivos o caminho não tem sido fácil, no entanto continuamos a acreditar que a inclusão e a diferenciação pedagógica constituem um móbil impulsionador suscetível de conduzir a respostas assertivas e emergentes, conducentes à autonomia, ao sucesso e à participação. Ao longo destes anos, foram-se consolidando experiências, contextualizando respostas e apontando para rumos inovadores. Assim, esta população deixou de ter como único horizonte meios institucionais segregados, passando a aceder ao mundo, em todas as suas potencialidades e possibilidades de interação com pessoas e ambientes, na garantia de uma melhor qualidade de vida. Possibilitando assim, a estes alunos uma coexistência significativa junto dos seus pares, numa troca de experiência, sentindo-se aceites e respeitados.